sexta-feira, 14 de maio de 2010

Alfabetização e Letramento.


A possibilidade de comunicação via textos é mais do que a capacidade de leitura de símbolos linguísticos numa página. O que um texto simplemente diz e o que comunica socialmente podem ser realidades e ideias completamente distintas. O intercâmbio real entre um autor e um leitor é baseado num passado social e cultural partilhado. Ler um texto e interpretá-lo são duas realidades e experiências diferentes. Saber "ler" não significa "saber ler." Sem a interpretação contextualizada no tempo e espaço, a comunicação ocorre somente num nível superficial, se de todo. A menos que o termo e conceito de alfabetização venham a ser alargados para se referir também a um tipo de alfabetização cultural e social.

Não se pretende com este argumento menosprezar a função da alfabetização ao seu nível mais básico e vital ­ o processo de aprendizagem do código linguístico. No entanto, importa reafirmar que até mesmo no processo de aquisição da língua escrita o contexto da aprendizagem deve sempre visar ao que há de social em toda a linguagem humana, ou seja, o processo de comunicação de algo a alguém. O código linguístico não é um fim em sim mesmo, mas o meio através do qual, de forma socialmente adaptada, comunicamos efetivamente e dessa forma nos tornamos membros ou mantemos a nossa afiliação literata nas comunidades de que fazemos ou queremos fazer parte.

O desafio dos educadores em face do ensino da língua é Alfabetizar Letrando. Mas, como?

Quando os alunos sentem que têm o respeito e atenção do professor e que o objetivo do professor é o de os ajudar, muitos respondem de forma positiva. Segundo Cummins (1989), a interação estabelecida na aula entre alunos e professores e entre os alunos em si é vital para o desenvolvimento da literacia desses mesmos alunos. Algumas das suas sugestões incluem:
diálogo genuíno entre o professor e o aluno tanto oralmente como através da escrita;
orientação e apoio;
colaboração através do diálogo entre os alunos;
uso significativo da língua escrita em vez de atenção às estruturas superficiais da comunicação escrita;
aspectos do desenvolvimento linguístico integrados em todo o conteúdo curricular;
ênfase dada às habilidades de análise e resolução de problemas;
apresentação de tarefas de forma a engendrar motivação intrínseca nos alunos.
Essa forma de pensar e estruturar a sala de aula e as relações nela existentes cria, de certa forma, um sistema modelo através do qual os alunos podem explorar outras relações sociais alargadas na sua experiência presente e futura.

Fonte: As afirmações são baseadas no livro de Lia Scholze "Teorias e práticas de letramento".

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