sexta-feira, 14 de maio de 2010

O professor de nossos filhos.


Computadores? Televisão? CD-ROM? Internet? Tudo isso pode ser útil (ou inútil, conforme o uso). Mas a essência do aprendizado tem a ver com o professor, aquele que administra, estimula, enriquece e dá vida a uma série de processos que levam o aluno a aprender. Bernardo Toro me ajuda a responder: que professor gostaria de ter para meus filhos?

O processo escolar requer que se desenvolvam simultaneamente dois traços contraditórios: disciplina. pessoal e curiosidade. Parte do que se aprende na escola é disciplina e curiosidade. Parte do que se aprende na escola é disciplina de trabalho, isto é, o hábito de fazer o que precisa ser feito - apesar de faltar vontade, sobrar desconforto e haver a atração de coisas mais interessantes. Mas, ao forçar esses hábitos pessoais, a escola pode matar a curiosidade espontânea do aluno, seu instinto de explorar o mundo que o cerca, de fazer perguntas só porque não sabe a resposta. Se isso acontecer. perde-se algo valiosíssimo. Mas curiosidade sem disciplina não leva a parte alguma. Ao professor, a mágica de orientar o aluno nas duas direções: disciplina pessoal e curiosidade.

Como se dá essa mágica?

O bom professor:

Tem um conceito positivo de si mesmo e de seu trabalho. Ele faz o que gosta, gosta do que faz e se sente realizado porque é professor.
Busca as possibilidades de fazer boas coisas diante da adversidade, em vez de procurar as excelentes razões para se desculpar por não havê-las feito. Não se contamina pelo pessimismo dos outros. Em vez disso, ele cria uma ilha de otimismo em torno de si.
Sabe mostrar ao aluno a beleza e o poder das idéias. Isso foi dito por Alfred North Whitehead e não dá para dizer melhor.
Tem sempre expectativas positivas acerca de seus alunos. Já foi demonstrado que os alunos fracassam quando o professor acha que vão fracassar. Portanto, não os culpe pelo fracasso, pois só atrapalha.
Nunca ridiculariza seus alunos. Aliviar o mau humor, mas à custa de maltratar a auto-estima do aluno, é péssima idéia.
Consegue que seus alunos participem ativamente da aula. Educação não se despeja goela abaixo. Aprender é um processo ativo, em que o aluno trabalha (intelectualmente) tanto quanto o professor.
Dialoga com os colegas e pede conselhos quando tem problemas com os alunos. Ser professor é aprender constantemente, com os alunos e com os colegas que já viveram situações semelhantes.
Entende que a indisciplina começa quando o aluno para de aprender. "Cabeça vazia, oficina do diabo".
Não vê os pais como adversários temíveis, mas como aliados e parceiros.
O bom professor consegue que todos aprendam o que têm de aprender, que cada um aprenda quando está pronto para tal e que sejam felizes no aprender.
Mas, se os objetivos são esses a maneira de atingi-los varia tanto quanto a personalidade humana é variada. Só temo o professor "bonzinho", que tudo deixa, tudo entende e tudo perdoa.

Perfil impossível? O desafio é aproximar-se dele. Imperfeitos somos todos (quando penso nas minhas fúrias diante de alunos malandros ou burros, modero minhas expectativas para com os outros mestres).

Fonte: CASTRO, Claudio de Moura. O professor de nossos filhos. Veja, São Paulo: Abril, Ponto de Vista, p. 21, 14 jul. 1999.

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